Criado em 2022, grupo estudantil está atuante no acolhimento e no letramento nesta Semana dos Calouros e começou atuação junto ao poder judiciário
O coletivo estudantil Trans Gilda se define como um “coletivo de e para pessoas trans na UFPR”. Essa visão explica por que esse grupo de estudantes de graduação resolveu percorrer esta Semana de Calouros da Universidade Federal do Paraná (UFPR) acolhendo os ingressantes transgênero, mas também preparando seus colegas para uma convivência saudável com essa comunidade.
Assim, além de acolher e apresentar uma rede de apoio a estudantes trans, o coletivo procura fortalecer a inclusão social e acadêmica desse grupo social por meio da sua visibilidade e da reivindicação por respeito.
“O objetivo é que o letramento sobre pessoas trans, voltado para a comunidade não trans, seja uma ferramenta de conscientização social e ampliação do conhecimento, especialmente para aqueles com pouco ou nenhum acesso a essas informações”, explica Larissa Ember, representante do coletivo e estudante do curso de Direito da UFPR.
Letramento significa o processo de conhecer considerando contextos sociais, seja para aprender a ler e escrever, seja para entender melhor “a diversidade subjetiva humana”, nas palavras da estudante.
“Vai desde o básico, que é o ser uma pessoa trans [a que não se identifica com o gênero de nascimento] ou cis [a que se identifica com o gênero de nascimento], até questões mais complexas, como as diferenças entre identidade de gênero, expressão de gênero e sexualidade”, diz Ava, aluna de psicologia, sobre o conteúdo do letramento do coletivo.
“Participar das semanas de acolhida é fundamental para mostrar que existem pessoas trans na UFPR e que estamos unidos como comunidade. A luta para permanecer na universidade é difícil e ter uma rede de apoio faz toda a diferença”, completa.
Bandeiras
Criado em 2022, o coletivo surgiu com o objetivo de apoiar a comunidade trans da UFPR, esclarecendo dúvidas sobre os processos universitários. Também mantém um Censo Trans e ajudou a criar um ambiente de acolhimento cultural no CineTrans, do projeto de extensão Núcleo de Comunicação e Educação Popular (NCEP), por meio do qual são exibidos filmes sobre e para pessoas trans.
No entanto, foi durante a greve de 2024 que o grupo ganhou mais força, ampliando sua atuação para discutir questões como cotas trans no vestibular e na pós-graduação, banheiros neutros e a revisão da portaria do nome social.
O nome do grupo é uma homenagem a Gilda de Abreu, mulher trans que viveu em situação de rua nos anos 1970 e 1980 em Curitiba e foi uma das primeiras travestis reconhecidas na cidade.
“Foi uma figura estigmatizada por ser moradora de rua, mas ressignificamos seu nome como símbolo de luta e resistência”, conta Larissa.
“Participar das semanas de acolhida é fundamental para mostrar que existem pessoas trans na UFPR e que estamos unidos como comunidade. A luta para permanecer na universidade é difícil, e ter uma rede de apoio faz toda a diferença”, comenta Ava.
Com essas ações, o Coletivo Trans Gilda não apenas fortalece a inclusão social e acadêmica de pessoas trans, “mas também contribui para um movimento maior de visibilidade, respeito e defesa dos direitos da comunidade trans e LGBT em diversos espaços sociais e institucionais”, completa Larissa.
Judiciário
Além de agir pela inclusão de pessoas trans na UFPR, o grupo começou este ano a atuar fora da universidade. Desde janeiro mantém parceria com a Articulação Nacional de Trabalhadoras e Trabalhadores Trans e Travestis do Sistema de Justiça (Antrajus) para levar letramento em diversidade sexual e de gênero a órgãos públicos ligados aos direitos do cidadão.
A primeira ação ocorreu no dia 29 de janeiro, Dia Nacional da Visibilidade Trans, no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, com reuniões e palestras que discutiram políticas públicas. O evento contou com a participação de representantes do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, Ministério Público do Paraná e da Antrajus.
Durante o encontro, foram feitas recomendações ao Poder Judiciário, incluindo a implementação de cotas para pessoas trans em concursos públicos, a inclusão da modalidade de trabalho especial para essa população e a efetivação do programa Transformação, instituído pela Resolução CNJ nº 497/2023, focando especialmente na empregabilidade.
O Trans Gilda também tem defendido a inserção de estagiários de universidades no sistema de justiça, propondo ações para garantir o acesso de estudantes de minorias, como pessoas trans, negras, com deficiência, e de áreas como psicologia, educação física e Libras.
“O coletivo atua como uma ponte, conectando pessoas dessas minorias ao sistema de justiça, seja por meio de estágios ou concursos”, diz Larissa.
O grupo fortalece sua colaboração com outras organizações, como o Antrajus e o Coletivo STIM, que apoia pessoas autistas, dado que 70% da população trans apresenta neurodivergência. Além disso, organiza eventos de integração, como encontros sociais e palestras, com o objetivo de reforçar os direitos sociais e promover a mobilização política da comunidade LGBT+.
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Foto destaque: Ascom TRE-PR