UFPR e Sanepar firmam convênio para monitoramento de aquíferos

Experiência do Laboratório de Pesquisas Hidrogeológicas da UFPR está à frente da ação pioneira para gestão de corpos d’água subterrâneos no Paraná

O Laboratório de Pesquisas Hidrogeológicas (LPH) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) existe há 29 anos, com destaque para o trabalho de análises de águas e as pesquisas em hidrogeologia. Com o suporte dessa equipe, a Universidade e a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) serão parceiras para monitorar águas subterrâneas do estado e desenvolver ações para segurança hídrica, para conservação e restauração do meio ambiente e promoção da saúde.

Os aquíferos estaduais subterrâneos usados para abastecer a população, e aqueles que possam vir a ser, são o foco do trabalho que será realizado em conjunto por meio da Fundação da UFPR (Funpar). O objetivo do convênio é obter segurança da água e administração eficaz dos recursos hídricos subterrâneos, e isso contempla subsidiar infraestrutura e tecnologia para viabilizar a rede de monitoramento. Estão previstos investimentos da Sanepar da ordem de R$ 7 milhões para os próximos cinco anos.

Os pesquisadores da Federal contribuirão com diagnóstico da qualidade das águas, curso de capacitação técnica para gerenciamento dos ecossistemas e implantação do sistema para inspecionar a quantidade – variação da profundidade da água no poço quando ele está parado — e a qualidade — concentração dos diversos componentes presentes — dos mananciais. Ação pioneira no âmbito do monitoramento das águas subterrâneas em escala estadual.

De acordo com o professor do Departamento de Geologia da UFPR e diretor do LPH, Gustavo Athayde, as águas subterrâneas representam 99% do volume de água disponível para a sociedade. O monitoramento dos aquíferos ainda é incipiente, em sua avaliação, por ser realizado de forma sistemática em pouco mais de 400 poços em todo Brasil, pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB).

Na visão do pesquisador, o ineditismo da ação coloca o LPH e a UFPR na vanguarda da área. “E também aprimorará a qualidade de vida da sociedade, contribuindo para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”.

A proposta do acordo assinado em janeiro de 2025 é desenvolver modelos conceituais para compreensão hidrogeológica e, a partir deles, propor métodos inovadores para o monitoramento, governança e gestão das águas subterrâneas.

“Saberemos as assinaturas naturais das águas [fontes geológicas devido à interação com as rochas], assinaturas antrópicas, e como os aquíferos interagem com os recursos hídricos superficiais”, afirma o professor.

A rede de monitoramento hidrodinâmico será composta por 60 poços e terá como objetivo verificar as tendências no armazenamento das águas subterrâneas. Estiagens prolongadas ou eventos de recarga refletem na profundidade de ocorrência das águas subterrâneas, observa Athayde, e serão monitorados em tempo real pela equipe de pesquisadores do LPH.

Perfuração de poço no Aquífero Guarani em Dois Vizinhos (PR) pela Sanepar. Foto: AEN/Sanepar/Reprodução

Entre as contribuições da parceria no âmbito acadêmico, estão ações de ensino e extensão que serão realizadas nos próximos cinco anos e o fato de que estudiosos das áreas de hidrogeologia, hidrogeoquímica, geologia, geografia e química realizarão pesquisas de mestrado, doutorado e pós-doutorado relacionadas aos temas do projeto, detalha Athayde.

O projeto intitulado Segurança Hídrica com Águas Subterrâneas (SEG.HIDRO) é coordenado em conjunto com a professora Camila Müller, do Departamento de Geologia da UFPR.

Varredura

Segundo Ester Amélia Assis Mendes, gerente de Recursos Hídricos da Sanepar, o acompanhamento será feito em cerca de 1,3 mil poços em operação no Paraná. A gestora afirma que o convênio intenta garantir a disponibilidade de água em quantidade e qualidade suficientes para o atendimento às necessidades humanas, à prática das atividades econômicas e à conservação dos ecossistemas aquáticos.

Por meio da varredura analítica multielementar nos mais de mais de mil poços tubulares em operação, os parceiros conhecerão a qualidade da água, suas aptidões e a idade desde a recarga.

“Informações que, integradas, aumentarão o entendimento sobre as águas subterrâneas, tornando a exploração sustentável e mais resiliente frente às variações climáticas que enfrentamos atualmente”, celebra Athayde.

Durante nove meses, técnicos da Sanepar devem coletar água dos poços, para análises de qualidade. Com o auxílio de satélites, o levantamento hidrogeológico subsidiará um banco de dados e informações para balanço hídrico e estimativa de recarga dos aquíferos.

Aproximadamente metade das cidades do Paraná dependem das águas subterrâneas, informa o professor da UFPR.

“Os aquíferos são fundamentais para o abastecimento, principalmente em períodos prolongados de falta de chuvas”.

Um aquífero é composto por rochas permeáveis e porosas que têm a capacidade de reter e de escoar água. Essa formação geológica que acumula água subterrânea é um reservatório móvel que, gradualmente, provê recursos para poços artesianos e rios.

Cada vez mais alvo de exploração, esses ecossistemas necessitam de cuidados relacionados à contaminação, assim como ocorre com as chamadas águas superficiais.

Nascente do projeto

Hidrosfera: esse é o nome de um projeto desenvolvido na UFPR desde 2017, em conjunto com a Itaipu Binacional. A equipe monitora, por meio de amostras de aquíferos em 37 poços tubulares, de águas superficiais e da chuva, os elementos dissolvidos e a presença de hormônios, micropoluentes e agroquímicos nessas fontes — usadas para suprir os moradores do oeste paranaense. 

As coletas passam por análises no Itaipu Parquetec, no Laboratório de Pesquisas Hidrogeológicas da UFPR e em laboratórios fora do Brasil. Além disso, parte dos membros elabora vídeos para divulgação científica e trabalha na produção de um documentário sobre as águas subterrâneas.

“Foi no Hidrosfera que desenvolvemos os métodos inovadores para o  gerenciamento do aquífero na região oeste, que agora serão replicados e adaptados em escala estadual, para todos os aquíferos. Ele foi o embrião do projeto com a Sanepar”, conclui Athayde.

Foto de destaque: LBH, no Centro Politécnico da UFPR, em Curitiba | Crédito: Marcos Solivan/Sucom UFPR

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