Ministério Público pede indenização de R$ 15 milhões por supostas irregularidades no reconhecimento facial de alunos de escolas públicas no Paraná

No sistema, operado por empresa privada, professores tiram foto em um aplicativo de celular em cada aula. Por meio de inteligência artificial, ferramenta registra presença dos estudantes. Ministério Público do Paraná

RPC

O Ministério Público do Paraná (MP-PR) pediu uma indenização por danos morais coletivos de R$ 15 milhões ao ajuizar uma ação civil pública por possível violação à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) na coleta de biometria facial de estudantes de escolas públicas do estado. O sistema é operado por uma empresa privada e usado para controle de presença por reconhecimento facial.

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A ação foi iniciada pela 3ª Promotoria de Justiça de Campo Mourão, no norte do Paraná, e é destinada para o Estado do Paraná, a Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar) e a empresa Valid Soluções S. A.

Segundo o MP, a Celepar fechou um contrato de R$ 4 milhões com a empresa privada para criação e operação do sistema de reconhecimento facial por inteligência artificial. Com aditivos, o valor passou para R$ 12 milhões.

No sistema, os professores tiram uma foto, em um aplicativo de celular, em cada aula. Por meio de inteligência artificial, a ferramenta registra a presença dos estudantes.

Conforme a Secretaria Estadual de Educação (Seed), o sistema foi implementado na rede estadual de ensino em 2023 e serve para “agilizar um processo que até então era manual e otimizar o trabalho do professor dentro de sala de aula”.

Porém, na ação, o Ministério Público afirma que Celepar, Estado e a empresa privada estão infringido a LGPD. Leia detalhes a seguir.

Na ação, a Promotoria de Justiça pede, além da indenização, a suspensão temporária da coleta e tratamento de dados pessoais dos alunos para o reconhecimento facial no procedimento de chamada.

O processo foi protocolado, está em fase inicial e aguardando despacho do Juízo responsável.

Quatro aspectos de violação da LGPD, segundo o MP

A Promotoria de Justiça alega, na ação, que Celepar, Estado e a empresa privada infringem ao menos quatro artigos da LGPD.

“Os propósitos do tratamento de dados biométricos não foram explícitos e informados aos titulares dos dados. Apesar de constar menção à ‘frequência escolar’ nas autorizações transcritas, não foi devidamente informado que o registro da frequência seria realizado por meio de reconhecimento facial, tampouco que os dados pessoais utilizados seriam a biometria facial dos alunos”, afirma a ação.

O MP indica ainda que a licitação não justifica a necessidade a necessidade de o sistema informatizado detectar emoções e atributos faciais, como sorriso, boca aberta, olhos fechados e o uso de acessórios como óculos, chapéu e bigode.

Conforme o órgão, a exigência feita pela Celepar constou no processo licitatório que resultou na contratação da empresa.

Para a LGPD, informações como essas são consideradas dados pessoais. Por conta disso, só poderiam ser tratadas para uma finalidade legítima e devidamente informada aos donos dos dados, o que, conforme o MP, não aconteceu.

O que dizem os citados?

A Seed afirma que a ferramenta usada segue padrões e leis de privacidade e segurança de dados. Além disso, reforça que as fotos tiradas pelos professores não ficam armazenadas no dispositivo ou com os docentes, garantindo direito à privacidade dos estudantes.

Conforme a Secretaria, as imagens são enviadas ao servidor da Celepar, criptografadas e não há acesso direto a elas, somente via datacenter da Celepar.

“Além de reduzir o tempo de chamada, o objetivo é ter um registro de frequência mais preciso por meio da solução que une inteligência artificial e biometria. Nesse modelo, também não há risco de alguém responder a chamada por outra pessoa. A Secretaria de Estado da Educação não foi notificada sobre possível ação ajuizada pelo Ministério Público do Paraná”, diz a nota.

A Valid S.A. afirmou que ainda não foi oficialmente citada no processo mencionado e que se manifestará nos autos assim que isso acontecer.

“A Valid conta com rigorosos processos para implementação de projetos dos mais diversos tipos, sempre seguindo rigorosamente as leis vigentes”, reforça a empresa.

O g1 procurou a Celepar, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.

VÍDEO: O que é a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)?

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