Falas em mesas redondas destacaram a atuação dos movimentos sociais e dos coletivos de periferia para viabilizar manifestações de grupos sociais sobre o planejamento urbano e rural. Evento tem programação até sexta (23) no Centro Politécnico da UFPR
Por Gabriel Domingos, Ana Luize e Ivan Moura/INCC
Processos de planejamento e ocupação do espaço variam quanto à abertura do debate à população, mas movimentos sociais e coletivos periféricos tornam possível a existência das expressões populares sobre o tema. Essa dinâmica foi um assunto nas mesas redondas promovidas pelo Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (Enanpur) 2025 nesta terça-feira (20), no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba.
No conceito geográfico, território é um recorte político do espaço físico, no qual ele é delimitado pela influência de agentes com poder. É um termo comumente utilizado nas atividades dos coletivos sociais. Nessa situação, é capaz de significar o lugar ao qual uma comunidade se sente pertencente.
“Os movimentos sociais falam em território e não em terra, isso porque veem esse espaço como uma relação [não um objeto]”, avaliou o professor Renato Emerson dos Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Santos participou da mesa redonda “Ação social e práticas territoriais dos movimentos sociais do campo e da cidade: confluências no planejamento”, na manhã de terça, juntamente com Jorge Montenegro Gomez, professor do Departamento de Geografia da UFPR; Juan Wahren, da Universidade de Buenos Aires (UBA); Priscila Facina Monnerat, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST); e Marta Cristina Santana, da Teia dos Povos, rede de articulação de movimentos sociais.
Durante a mesa, destacou-se a capacidade da comunidade de se organizar em coletivo, criando movimentos sociais duradouros nas cidades e no campo, e com aderência à produção acadêmica nas universidades no momento do planejamento de ações.

Priscila Monnerat, produtora agroecológica no Assentamento Contestado, na Lapa (PR), e militante do MST, afirmou que o direito à terra é somente o primeiro passo da reivindicação. Um dos momentos mais importantes desse processo acontece após a regularização da terra, quando é preciso planejar como a comunidade se relacionará com o espaço.
“É nesse momento que entram a Universidade, os grupos de pesquisa e os projetos de extensão. Eles fornecem apoio à comunidade, que passa a ampliar a consciência e a buscar mais coisas, elas vivenciam mais participação”, disse. “Ali você está aprendendo com a vida”.
Auto-organização
Na mesa “A ‘poli-periferia’ e o ‘giro periférico’ nos estudos urbanos”, o amadurecimento da força mobilizadora dos moradores das periferias foi apresentada como uma influência também na visão acadêmica sobre essas populações e seus territórios.
A mesa reuniu, como palestrantes, Patrícia Maria de Jesus, da Universidade Federal do ABC (UFABC); Alan Mabin, da Universidade de Witwatersrand (Wits) da África do Sul; Josué Medeiros, do Ministério das Cidades; e Jean Legroux, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Se, nos anos 1990 e 2000, a periferia era interpretada nas pesquisas como um espaço homogêneo caracterizado pela violência e pela pobreza, a partir dos anos 2010 os estudos passaram a indicar uma maior pluralidade de vozes. Assim, mesmo com a persistência do cenário de violência e pobreza em vários locais, a discussão sobre a periferia ganhou novos contornos.
De acordo com Patrícia: “O crescimento urbano implica uma maior pluralidade de grupos e pessoas, com uma diversidade de questões sociais, tais como: gênero, raça, religião e muitos outros”, diz. Essa pluralidade foi responsável, nos últimos anos, por uma mudança nos estudos sobre periferia.
Uma característica da periferia hoje é a capacidade de auto-organização, que vem da necessidade. Para Josué, “para além de sobreviver, as pessoas na periferia vivem. Vivem e encontram soluções, meios e organizações para os problemas da comunidade”.
Sobre o Enanpur
O encontro, que é o principal evento sobre planejamento urbano e regional no Brasil, é promovido pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (Anpur) a cada dois anos. É a primeira edição cuja sede é na capital paranaense.
As duas mesas redondas foram parte da programação do segundo dia de atividades do XXI Enanpur, que tem a UFPR na organização, por meio dos programas de pós-graduação em Planejamento Urbano e Geografia.
O evento recebeu mais de duas mil inscrições de participantes de todo o Brasil e também do exterior. A programação completa pode ser conferida no site do Enanpur 2025.
Edição: Camille Bropp
Foto de destaque: Manifestação do MTST em São Paulo, em 2016. Crédito: Rovena Rosa/ABr
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