Ocupação pode atrasar reformas e entrega da casa aos estudantes
O movimento de mulheres Olga Benário ocupou, na última quinta-feira (1º), o imóvel cedido pelo governo estadual para a Universidade Federal do Paraná com a finalidade de abrigar uma residência estudantil indígena. O imóvel, localizado na rua João Manoel, 140 (ao lado do Casarão da UPE), entrou em reforma após cessão à universidade firmada em dezembro de 2024.
O movimento Olga Benário é ligado ao partido Unidade Popular (UP) e pretende com a ocupação pressionar o Estado a criar uma casa de referência para mulheres em situação de rua. Entretanto, a ocupação pode atrasar as reformas e a entrega da residência aos estudantes, prevista para o começo de julho. A reforma da casa é um compromisso da UFPR depois do movimento de ocupação dos indígenas ao prédio do Diretório Central dos Estudantes (DCE).
Cronologia
- 13 de Dezembro de 2024: O Estado do Paraná e a UFPR firmam Termo de Cessão de Uso de Imóvel.
- Janeiro de 2025: A UFPR realiza vistorias no imóvel e produz relatórios fotográficos sobre a condição do local. O termo de vistoria aponta a “necessidade de intervenções gerais de reforma em todo o prédio”, com sinais de invasão, pessoas em situação de rua residindo no local e furto de acabamentos removíveis. O relatório indica que “o prédio deverá ser inteiramente reformado”.
- Fevereiro de 2025: Início da limpeza do espaço, com corte de grama e retirada de entulhos, para preparar o imóvel para as obras.
- Março de 2025: Assinatura do contrato para dar início aos serviços de manutenção da moradia estudantil indígena. As primeiras obras começam. Ocorre a primeira reunião do Núcleo Universitário Indígena (NUEI), da Coordenadoria de Políticas para Migrantes e para Povos Tradicionais e Originários (CP-POVOS) da PROAFE e o coletivo de estudantes indígenas da UFPR para discutir as tratativas das reformas no imóvel.
- 1º de Abril de 2025: Discussão sobre a criação de uma comissão para pensar em processos seletivos e regimentos da moradia.
As reformas, até o momento, envolveram a instalação de pias e vasos sanitários, além da parte hidráulica. No momento da ocupação, havia tacos, retirados para substituição por lajota, que seriam recolhidos na sexta-feira (2), um dia depois da ocupação. A retirada foi adiada.





A previsão de entrega das obras era a primeira semana de julho, segundo a Ordem de Serviço 4, da Superintendência de Logística (Sulog) da UFPR. Agora, o prazo terá que ser revisto em função do tempo de ocupação do imóvel.





Desconhecimento
O movimento Olga Benário afirmou para os representantes da reitoria na sexta-feira (2) que não tinha ciência da destinação do imóvel para moradia indígena. Ao contrário do que pleiteia o movimento, a UFPR não tem como fazer política de Estado e não pode abrigar movimentos sociais nos próprios imóveis.
“Não nos compete promover políticas próprias dos poderes executivos. Somos solidários à causa, podemos pedir agendas com o Ministério Público e secretarias estaduais, mas legalmente fazemos políticas educacionais”, diz Camila Girardi Fachin, vice-reitora da UFPR.
Ocupação gera indignação dos alunos indígenas
Em comentário postado no perfil da Ocupação Olga Benário, a representação da Moradia Indígena Estudantil da UFPR mostrou seu “profundo descontentamento” com a situação.
“Nos causou surpresa e desconforto a realização de um churrasco, bem como outras ações, como a modificação do terreno e a organização de eventos, como se fossem em nome da comunidade indígena. Reforçamos que tais atitudes não foram discutidas conosco, tampouco autorizadas, desrespeitando os princípios de autonomia, escuta e coletividade que defendemos.”
Já o Coletivo dos Estudantes Indígenas da UFPR (CEIND) mostrou descontentamento em seu perfil oficial. “A Maloca UFPR é fruto de uma luta legítima e coletiva, que representa não apenas uma conquista material, mas também simbólica para os povos indígenas dentro da universidade”, diz o texto.
De acordo com a manifestação do CEIND, “repudiamos a postura do Movimento Olga Benário, que afirmou desconhecer nossa luta e, com isso, reforça o apagamento histórico das pautas indígenas, repetindo um processo de invisibilização que ocorre desde a colonização do Brasil”.
Em reunião com as representações discentes indígenas da UFPR ocorrida na tarde desta segunda-feira (5), o reitor Marcos Sunye foi taxativo com relação aos rumores de que os reparos na residência não haviam começado. “A reforma nunca parou. Se isso foi dito, não corresponde à realidade”. Ele observa, ainda, que “a casa veio para a UFPR com o ônus de custear a reforma. Nós a estamos custeando: mesmo com um orçamento apertado, isso foi priorizado”, disse.
Com informações do Gabinete da Reitoria