Laboratório da UFPR usa drones para trabalho de campo

Aeronaves remotamente controladas auxiliam o Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (Lageamb) a mapear territórios

Por Priscila Murr

Você certamente já deve ter visto um drone voando pelos céus. Senão pessoalmente, com certeza já ouviu falar daqueles que levam suprimentos para locais de difícil acesso, operam pequenos resgates, monitoram locais a partir de imagem em tempo real, auxiliam na vigilância, fazem parte do enredo de escolas de samba ou mesmo aqueles que, por estarem em local indevido, são capturados por águias treinadas!

O surgimento dessa tecnologia data do início do século XX, como forma de auxílio em operações militares. Seu desenvolvimento, porém, confere uma nova roupagem ao uso, trazendo possibilidades que são amplamente exploradas nas pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (Lageamb), da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Mas, afinal, o que é um ‘drone’? Para responder a esta questão, recorremos ao primeiro bolsista a integrar o Lageamb, geógrafo e coordenador técnico de projetos ambientais do laboratório, Carlos Wrobleski. Ele explica que a terminologia ‘drone’ é um termo bastante popular e genérico, que diz respeito a qualquer coisa que pode ser controlada remotamente.

“Então, se eu tenho um carrinho de controle remoto, ele pode ser um ‘drone’, porque está sendo controlado de forma remota”, exemplifica.

Para essas aeronaves utilizadas no laboratório, especificamente, o bolsista aponta que, conforme a legislação, o nome é ‘Aeronave Remotamente Pilotada (ARP)’. “Esse é o termo correto de utilização. Assim, fica claro se tratar de uma aeronave de fato”, complementa.

A utilização de drones, no laboratório, acontece desde 2019 e, segundo o coordenador-geral do Lageamb, Eduardo Vedor, é a base de praticamente todos os projetos atualmente, dando subsídio ao levantamento de dados acerca de temas como: monitoramento ambiental e territorial, georreferenciamento/mapeamento de imóveis rurais, análises de ameaças e riscos climáticos, conservação da natureza, mapeamento de comunidades e diagnóstico fundiário, entre outros.

“Com esse tipo de equipamento, a gente consegue diminuir muito o tempo de levantamento de dados; reduzir pra menos de uma semana um mapeamento que levaria um mês. Gerando informações 3D, por exemplo, em uma das bandas obtemos a cobertura da vegetação; em outra banda, a superfície terrestre. Assim, é possível processar e estimar o volume de biomassa, de vegetação que uma determinada área de estudo tem”, enfatiza.

É impossível pensar qualquer projeto no laboratório sem o uso dessa ferramenta. Isso porque, o drone já está integrado à sua estrutura de atuação que se dá a partir de duas grandes frentes, como aponta Wrobleski: “a primeira é mais voltada para desenvolvimento, inovação e experimentação, sobretudo de novas ferramentas e tecnologias. Atualmente, no laboratório, a gente opera duas tecnologias.

Uma é um sensor termal, com ele a gente consegue fazer uma infinidade de análises que envolvam diferenças de calor entre objetos. A gente opera, em uma escala relativamente interessante, dentro de projetos como os da Superintendência do Patrimônio da União no Paraná (TED/SPU) e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Paraná (Incra), um sensor laser, uma tecnologia chamada Light Detection and Ranging (LiDAR). E essas duas são a ponta da lança da tecnologia em drones.

Basicamente, não tem nada tão tecnológico quanto essas ferramentas, e a gente as opera de fato, produzindo muita ciência a partir dessas duas aeronaves. A segunda frente de atuação dessas aeronaves diz respeito às operações cotidianas. Então, a gente consegue ter vários pilotos, fazendo cursos para que as pessoas operem as aeronaves para tirar fotos, fazer algum tipo de relatório sobre suas próprias pesquisas… É uma operação muito mais simples, mas que traz um resultado absurdo”.

Cada um desses veículos aéreos tem sua especificidade e objetivos. Por desempenharem um papel estratégico em diversas frentes de pesquisa e aplicações, estão envolvidos em múltiplos projetos, demonstrando a versatilidade de aplicações dessa tecnologia em prol do desenvolvimento científico-social.

“Hoje, temos uma diversidade de projetos. Os drones têm acompanhado vários deles, estando presentes de diferentes formas e a partir de metodologias diversas. Nós já utilizamos essa tecnologia há anos, então, houve um avanço muito grande, tanto metodológico quanto de conhecimento sobre os equipamentos, desde 2019: aquisição de novos drones, aprimoramento da metodologia, teste de diferentes equipamentos… E, com o trabalho integrado, atuando, por exemplo, junto com agrimensores e geógrafos, conseguimos maior precisão nos estudos”, destaca Laura Krama, geógrafa, mestranda em Ciências Geodésicas na área de Cartografia e Sistemas de Informações Geográficas pela UFPR, e integrante do Lageamb.

De forma prática, as ARPs proporcionam informações detalhadas, em alta resolução espacial e com qualidade posicional, tendo em vista sua facilidade de acessos. A tecnologia embarcada nessas aeronaves amplia significativamente a capacidade de mapeamento e levantamento de dados, otimizando processos de análise, planejamento e monitoramento. Assim, é possível identificar áreas ecologicamente sensíveis, diagnosticar a vulnerabilidade em zonas de risco e, consequentemente, propor medidas de mitigação.

“Outra aplicação importante é no uso de ortomosaicos, que viabilizam um primeiro mapeamento detalhado em áreas de comunidades tradicionais, e Modelos Digitais do Terreno (MDTs), para extração de vértices no georreferenciamento de imóveis rurais, no Projeto TED/INCRA focado na regularização fundiária e auxiliando na questão da reforma agrária, que tem como finalidade o acesso à terra para milhares de famílias. Além disso, os drones geram produtos derivados dos sensores LiDAR para os terrenos da União, viabilizando estudos técnicos e auxiliando na gestão dessas áreas federais junto à SPU”, conta a doutora em Geografia e integrante do Lageamb, Marianne Oliveira.

Diferentemente daquilo que se considera pelo senso comum, o drone não serve para diversão. É necessário ter autorização para seu uso, respeitando as leis e regras vigentes. Ele potencializa as pesquisas e projetos, oportunizando informações detalhadas, imagens em alta resolução e qualidade de posicionamento em campo. Isso otimizando os processos de análise, planejamento e monitoramento, e amplia, significativamente, a capacidade de mapeamento e levantamento de dados para os trabalhos desenvolvidos no Lageamb.

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